Estante

 

A essa hora restam poucos amigos.
A casa está em cinzas, os irmãos mortos,
o inimigo armado na esquina.

Um grito agora se perderia na poeira,
no sono da rua desabitada.
Guarda-o, pois, até a madrugada,

reúne tuas forças em silêncio,
engraxa, cuidadoso, tuas armas,
confere a munição contada e espera...

Vigia na sombra o vulto do inimigo,
mas, sobretudo, ouve o despertar do povo,
percebe nos dedos a bruma a desatar

promessas de rebeldia.
Eis aí a tua hora:
Levanta barricadas
e entrega ao povo os fuzis
dos camaradas mortos!

(Poemas do Povo da Noite, 3ª edição, 2010)